Em entrevista, o cardiologista Fabrício da Silva falou sobre os cuidados que a população deve ter para manter o coração saudável
No dia 29 de setembro é comemorado o Dia Mundial do Coração. Dados do Ministério da Saúde mostram que, por ano, aproximadamente, 300 mil pessoas sofrem Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) no Brasil, sendo que, em 30% desses casos, o paciente não resiste e morre. A Sociedade Brasileira de Cardiologia registra, por dia, mais de 1.100 mortes, ou seja, cerca de 46 por hora, 1 a cada 90 segundos.
Cuidar do coração é essencial. Só para se ter uma ideia, as doenças cardiovasculares causam o dobro de mortes quando comparado àquelas provocadas por todos os tipos de câncer juntos; são 2 vezes mais que todas as causas externas, como acidentes e violência; 3 vezes mais que as doenças respiratórias e 6 vezes mais que todas as infecções, incluindo a AIDS.
Ainda de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, até o final de 2022, 400 mil brasileiros vão perder a vida por doenças do coração e da circulação.
A pergunta que fica é: como evitar esse cenário? O doutor Fabrício da Silva, cardiologista e fundador da Amplexus, responde:
– Doutor, vivemos em um mundo estressante. Trabalho, cuidar de casa, trânsito…! Nesse cenário, o que fazer para manter o coração saudável?
Para manter o coração saudável, precisamos incorporar em nossa rotina 3 condições básicas: alimentação balanceada (controle de sal, gorduras e carboidratos simples), atividade física regular e um sono de qualidade. Incorporar atividade física (como uma meta inicial de pelo menos 150 min semanais), compondo com aeróbico e fortalecimento muscular reduz riscos cardiovasculares. Atentar-se para poluidores do sono, como por exemplo apneia ou hipopneia do sono, também impactam nos riscos de hipertensão arterial e outras condições cardiovasculares.
– Dizem que caminhar e correr faz bem ao coração. Isso é verdade? Quais são os cuidados que quem pratica esse tipo de exercício deve tomar?
Hoje existem diversas modalidades de atividades físicas: musculação, esportes, aeróbicos, High Intensity Training (HIT), funcionais, crossfit, etc. Fato é que a atividade física, para ser benéfica para a saúde como um todo, precisa ser iniciada gradualmente, para condicionarmos nosso sistema cardiopulmonar e garantirmos a adaptação otimizada do nosso corpo ao esforço realizado. Lembrarmos sempre que a ausência de supervisão profissional ou despreparo para o exercício proposto, impacta também em um risco elevado de lesões osteomusculares.
– Sobre alimentação! Comer bem e de forma saudável é essencial para uma vida com qualidade e um coração forte, mas, no meio desse trajeto, é possível manter prazeres, como tomar um chopp e comer churrasco? Qual é o ponto de equilíbrio?
Sempre recebo essa pergunta no consultório sobre o Chopp ou churrasco. Fato que o equilíbrio é o nosso maior aliado. Mudanças de vida extremas e radicais, totalmente restritivas, não são duradouras e agregam outros impactos psicológicos. Portanto, sim! É possível manter eventualmente a picanha e/ou Chopp, desde que tenhamos atenção à frequência, compensações em outras refeições e aliados ao gasto energético maior.
– Quais são os mitos e as verdades sobre os cuidados com o coração? Por exemplo. Tomar uma taça de vinho por dia pode realmente fortalecer o órgão? Angústia ou tristeza demais podem causar enfraquecimento do coração? Assustar alguém pode provocar infarto? Se apaixonar traz benefícios ao coração?
Sobre o vinho! Diversos estudos mostram efeitos positivos antioxidantes de substâncias contidas no vinho e isso poderia trazer benefícios para a saúde cardiovascular. Contudo, não podemos esquecer que se trata de uma bebida calórica e alcoólica. O excesso também acarreta malefícios como ganho de peso e esteatose hepática (gordura no fígado). Vale outro destaque que, normalmente, o vinho vem acompanhado de petiscos, como queijos e outros alimentos. Atentar-se, mais uma vez, para o equilíbrio das alimentações e balancear a frequência e quantidade da ingestão impacta na saúde.
Tristeza, depressão, ansiedade, dentre outras situações estressantes, impactam diretamente na saúde do coração, além de aumentarem o risco de hipertensão arterial e aterosclerose (placas nos vasos sanguíneos), causam um grande impacto social. Existe, inclusive, uma síndrome chamada Taktsubo, ou uma Síndrome do Coração Partido, na qual ocorre uma perda de função contrátil do coração, evoluindo para insuficiência cardíaca, relacionada a eventos de grande estresse, como o luto, por exemplo.
A saúde mental e o coração andam lado a lado. Um estudo da American Heart Association, de 2017, já mostrou o impacto na saúde cardiovascular ao se manter boas e leais amizades. Da mesma forma, apaixonar-se de fato traz impactos fisiológicos para o bom funcionamento do coração. Reduz níveis de hormônios do stress.
– Quais são os sinais de que o coração não anda bem?
Se uma pessoa já apresenta uma doença cardiovascular obstrutiva grave, uma situação de grande estresse ou ansiedade podem instabilizar a placa na artéria coronária e causar angina ou até mesmo o infarto. Por isso, estar com seu corpo, em especial seu coração, com as avaliações médias em dia, previne surpresas e garante um tratamento efetivo a tempo.
– Uma pessoa que leva uma vida sedentária e sem regramento alimentar ainda pode reverter essa situação e colocar a saúde e o coração em dia?
Sempre há tempo para repensar nossos hábitos e melhorarmos nossa saúde. Mesmo o indivíduo sedentário, obeso, ou já com condições de doenças crônicas, consegue realizar boas mudanças em seus comportamentos e, com isso, impactar positivamente na saúde cardiovascular. Lembrando que sempre ao iniciar uma atividade física, se anteriormente estava completamente sedentário, é importante uma avaliação cardiológica prévia. Isso reduz o risco de complicações de doenças preexistentes e oferece importantes orientações ao indivíduo sobre os cuidados.
– Quais são as dicas o senhor dá para que as pessoas tenham um coração saudável?
A grande dica é que nosso coração e nosso corpo todo são nossos maiores bens. Cuidar e conhecer nossas restrições aumentam nossas expectativas de vida com qualidade. Tenha seu cardiologista como seu parceiro e seu medico-amigo, pois assim teremos grandes vitórias ao longo da vida.