Vinho do cerrado? Brasília será destaque na rota do vinho, a dica foi de Dom Bosco

Grupo de trabalho do GDF e produtores desenham alternativas para explorar o enoturismo. No DF, a produção de uvas chega a 1,5 mil toneladas/ano

A dica foi de Dom Bosco. No final do século 19, o religioso italiano sonhou com certa “terra prometida, entre os graus 15 e 20”, de onde jorraria muito leite e mel; um lugar de “riqueza inconcebível”, dando, assim, as coordenadas do local da futura capital do Brasil. Passados quase 140 anos da profecia, a região do cerrado também tem se mostrado farta em outro alimento: uva.

Fotos: Divulgação/Setur

Engana-se quem pensa que o cerrado seco e o clima tropical do Planalto Central são empecilhos para o cultivo de uvas e a produção de vinhos finos. Tudo é uma questão de pesquisa e, claro, adaptação. Assim atesta o engenheiro agrônomo e expansionista rural Felipe Camargo, da Emater.

“Brasília tem características de solo e clima que possibilitam, sem dúvida, o plantio de uva para produção de vinho”, assegura o profissional. “A uva é uma fruta de clima temperado, e estamos falando de uma região de clima tropical, então tem toda uma questão técnica, como poda, quebra de dormência ou mesmo aridez do solo, que pode ser adaptada.”

Tudo indica que está dando certo, já que espécies de uvas como syrah, cabernet franc, barbere e tempranillo se adaptaram bem à região. “Uma das espécies que não se adaptaram aqui foi a cabernet sauvignon”, sinaliza Felipe Camargo.

Administrador de Planaltina, uma das regiões administrativas fortes na produção de uva no DF, Célio Rodrigues acredita que a criação de uma rota do vinho vai impulsionar ainda mais a economia local no setor rural. “A produção de uvas no local atrai turisticamente os apreciadores do vinho e gera renda aos agricultores; apoiar essa iniciativa é estar ao lado do cidadão e do futuro do DF”, afirma.

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Brazlândia na rota

As atividades do grupo de trabalho da Setur para a estruturação do DF como destino enoturístico seguem a pleno vapor. Integrantes de seis subgrupos criados pelo órgão fazem visitas em todo o DF. Além do PAD-DF, fazem parte do roteiro espaços de produção em Sobradinho e Planaltina.

Entre os trabalhos a serem desenvolvidos estão o mapeamento dos empreendimentos relacionados à pauta, como os vinhedos existentes na região, além de meios de hospedagem, bares e restaurantes. “Cada grupo vai fazer o mapeamento básico do que já pode ser usado como plano de trabalho”, antecipa a subsecretária de Produto e Políticas Públicas da Setur.

A região tradicional de cultivo de uva no DF, o ponto de partida para a produção local da fruta da família das videiras (Vitaceae), historicamente, é Planaltina. Mas também há registros de agricultores em Sobradinho, na região do Lago Oeste, e também em Vargem Bonita, no Riacho Fundo.

Maior produtor de frutas do DF, entre elas o morango e a goiaba, Brazlândia também quer fazer parte do turismo enológico. “O interesse desse novo mercado em Brazlândia vem crescendo porque é uma região administrativa com essa vocação agrícola”, avalia Felipe Camargo. “O pessoal de Brazlândia tem a expertise, já sabe trabalhar com frutas, e tudo o que eles fazem nesse ramo, fazem bem-feito”.

Dono de uma propriedade rural em Alexandre Gusmão, na região de Brazlândia, o agricultor Reinaldo da Silva Romeiro, 69 anos, é o único produtor de uva na cidade. Aposta no ramo desde 2010, plantando a espécie niágara-rosada em um espaço de 3 hectares e comercializando-a na Feira do Produtor, na Ceasa e em mercados. Ele acredita que a produção de uva em Brazlândia tem futuro na região. “O investimento é grande, mas vale a pena, é um negócio excelente”, aposta.

O governador Ibaneis Rocha ressaltou a importância de expansão da rota do vinho para fortalecer a produção local, gerando emprego e renda para o Distrito Federal.

“Estou feliz com esse projeto do circuito de vinhos aqui, e vamos investir recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa [FAP] para incrementar o setor e transformar o DF em um dos melhores produtores de vinho desse país”, afirmou o chefe do Executivo.

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