Ele sofre de transtornos mentais. Fugiu de casa em Padre Bernardo e ficou em situação de rua. Num esforço conjunto, foi possível identifica-lo e achar a família
Coração acelerado, passos apressados, olhos ensopados de lágrimas. Foi assim que dona Edite Francisca da Silva atravessou os corredores da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Sebastião no início da tarde de sábado (27) para reencontrar o filho Ronaldo Gonçalves, desaparecido há mais de dois anos. Suas preces finalmente foram atendidas. Mãe e filho agora estavam juntos novamente. Um final feliz para uma triste história de separação, angústia e sofrimento.
Essa história começa no final de 2018, em Padre Bernardo, município goiano a 80 quilômetros de Brasília, onde Ronaldo, 42 anos, morava com a mãe, dona Edite, 67. Foi naquele ano que ele sumiu de casa. E isso era previsível, mesmo com todos os cuidados para evitar sua fuga. Afinal, ainda na adolescência Ronaldo foi diagnosticado com esquizofrenia. Tomava remédios controlados, mas nem sempre aceitava os medicamentos. “Foi num desses dias sem a medicação que ele fugiu de casa e nunca mais voltou”, relata dona Edite.
Não se sabe como Ronaldo foi parar em Brasília. Sabe-se que ele ficou em situação de rua. Assim, nessa condição, que ele foi encontrado na quinta-feira (17) por uma patrulha da Polícia Militar num terreno baldio próximo à UPA de São Sebastião, unidade administrada pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF). Ali, a equipe de Serviço Social o recebeu e passou a tentar descobrir quem era esse novo paciente.
Mesmo mal vestido, sujo e magro, o homem estava clinicamente bem. Ele, porém, não sabia nem o próprio nome. Começava aí uma operação solidária para identificar o paciente e descobrir quem eram seus familiares. A equipe da UPA recorreu à Polícia Civil. Não demorou muito para desvendar o mistério. Pelas digitais, descobriu-se o nome dele e que ele já havia sido internado numa clínica em Brasília. “Ligamos para a clínica e lá conseguimos o telefone da mãe dele”, relata Amanda Kelly de Souza, a assistente social que cuidou diretamente do caso.
Pelo telefone, dona Edite recebeu a melhor notícia de sua vida: seu filho estava vivo, bem cuidado e em boas mãos. Era o fim de dois anos de angústia. Dois anos orando todos os dias para que o filho estivesse bem. No sábado, ela saiu de Padre Bernardo com Vicente, padrasto de Ronaldo, e seguiu até à UPA de São Sebastião. Lá encontrou com o filho mais velho, Juvercino Gonçalves para juntos verem Ronaldo. Ali chegou tremendo, ávida para rever o filho, mas feliz e aliviada por reencontrá-lo. “Quando a gente fica sem receber notícias pensa tudo quanto é coisa”, contou emocionada. “O que me restava era rezar e pedir para que nenhum mal chegasse nele. Agora estou aliviada”.
Ronaldo não esboçou reação ao rever a mãe. Ficou calado e de olhos fechados, mergulhado em seu próprio mundo. Foi reagindo aos poucos. Ao ser perguntado se sabia quem era dona Edite, ele respondia positivamente com a cabeça. A barreira da distância se rompia. Mãe e filho, enfim, juntos novamente.
Ronaldo, agora, vai receber o tratamento médico que a doença dele requer. A direção da UPA de São Sebastião aguarda uma vaga para ele no Hospital São Vicente de Paulo, em Taguatinga, que é referência no tratamento a pacientes com transtornos mentais. Dona Edite poderá visitá-lo sempre que quiser. Um alívio para uma mãe que passou dois anos sem qualquer notícia do filho.
Para a gerente da UPA de São Sebastião, Úrsula Naiara, mais uma missão foi cumprida. “Agradeço às assistentes sociais da UPA pela dedicação e à Polícia Civil, pois sem eles nada disso seria possível”, declarou, sem esconder a emoção. “Saber que a UPA de São Sebastião foi o palco desse encontro com um final feliz é motivo de muito orgulho”.