Com livros doados e móveis do lixão, mais de 23 crianças participavam das aulas
Em tempos de descrédito à ciência e à educação, uma menina de 12 anos emociona o Brasil ao montar uma escolinha para crianças de comunidade carente no interior do Maranhão.
Logo no início da pandemia, as escolas foram fechadas e migraram para as telas de computador com acesso a aulas remotas. Essa nova realidade, no entanto, não alcança as crianças atendidas pela “Escolinha da Esperança”, criada por Érica Leal no município de Coelho Neto (MA), distante quase 400km da capital São Luís.
Três a cada dez crianças em idade escolar não têm acesso ao ensino remoto no Brasil, revelam dados do relatório “A acessibilidade do aprendizado remoto”, publicado em agosto de 2020 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
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Diante dessas dificuldades, a menina passou a coletar tudo o que poderia servir de material. Livros usados, móveis e restos de lápis doados pela comunidade e outros recolhidos pela mãe e a irmã no lixão, que também cederam um barracão com paredes de barro e piso de terra batida.
Com um cartaz na porta escrito à mão, a “Escolinha da Esperança” virou uma brincadeira de gente grande. A menina recebia 23 crianças de 12 famílias da comunidade, entre parentes e vizinhos.
“Pensei em criar a escolinha porque vi que muitas crianças estavam sem ter aulas, vi que meus colegas estavam tristes (…) eu pedi livros para a tia Ivonete, para a tia Galega, para a Cristiane Bacelar e a gente foi montando a escolinha aos poucos”, conta Érica Leal.
A jornalista se envolveu com a história e hoje auxilia no relacionamento com a imprensa e arrecadação de recursos. / Reprodução
O caso chamou atenção quando a jornalista de Teresina (PI) Neyara Pinheiro divulgou um vídeo em seu canal e compartilhou com colegas de profissão. A repercussão provocou a ação de órgãos das esferas federal, estadual e municipal, além de uma vaquinha online que já arrecadou mais de R$ 150 mil.
“Muitas pessoas se mostraram sensíveis, pessoas doando, então eu fico muito grata por isso; em relação à mobilização de pessoas, tanto da esfera federal, como estadual e municipal. Espero que essa ajuda de fato chegue à comunidade e que esse dinheiro da vaquinha possa ajudar a família da Érica, dar uma qualidade de vida na moradia da Érica e também possa ajudar de alguma forma as outras crianças”
Uma equipe do governo do estado visitou a família de Érica e o secretário de Estado da Educação (Seduc), Felipe Camarão, anunciou a construção de uma Escola Digna no local, além da retomada das obras do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA) de Coelho Neto e o lançamento do programa Cheque Minha Casa, que vai beneficiar 200 famílias da região.
“A história dela inspirou. Nós iremos implantar o programa Escola Digna na comunidade dela, em parceria com a Prefeitura. Um espaço lúdico, de leitura, com sala de aula, para que ela possa continuar desenvolvendo isso que é uma vocação, que é um sonho (…) e com isso garantir salas de aula, espaços dignos, para que todos possam ter acesso à educação de qualidade”, explica Camarão.
Em visita ao local, Defensoria declara orgulho,zmas preocupação com a situação das crianças em situação de vulnerabilidade social. / DPE/MA
Outro órgão que visitou o local e anunciou atuar em defesa da família de Érica e da comunidade foi a Defensoria Pública do Estado (DPE/MA). O defensor público Thyago Rodrigues fez uma visita visando entender a realidade da comunidade e somar esforços mútuos na garantia de políticas públicas e melhorias estruturais para resguardar direitos e gerar dignidade à família e à população.
A Prefeitura de Coelho Neto derrubou as edificações de taipa e está construindo uma casa de alvenaria para a família e outra onde funcionava a escolinha. Após visita às obras, o Ministério Público Estadual (MP/MA) abriu um processo administrativo para apurar a situação das crianças em idade escolar e a oferta de ensino público naquela comunidade, além de acompanhar se as obras atenderão as demandas da comunidade.
A vaquinha online segue arrecadando recursos, com uma meta de alcançar R$ 300 mil a serem destinados a uma conta específica gerida pelo Rotary Club de Coelho Neto, encarregado de aplicar as doações em benefício da comunidade.
*Com informações do site Brasil de Fato