A Secretaria da Saúde de Goiás (SES-GO) alerta sobre o crescente número de casos de sífilis em gestantes, desencadeando um aumento proporcional nos registros de sífilis congênita. Nos últimos cinco anos, Goiás reportou 10.485 casos em grávidas, com um acréscimo preocupante de 1.236 casos apenas em 2023.
Em relação aos casos de sífilis congênita, foram registrados 2.270 nos últimos cinco anos, somando 310 casos apenas neste ano. O aumento nos casos pode estar ligado à pandemia de Covid-19, já que as pessoas evitavam buscar atendimento médico, o que dificultava o diagnóstico.
SÍFILIS
“A sífilis é uma doença infecciosa provocada pela bactéria Treponema pallidum. É principalmente transmitida por via sexual em gestantes e representa um risco sério durante a gestação, resultando em complicações significativas ao feto. O acompanhamento pré-natal desempenha um papel fundamental na identificação precoce da sífilis, possibilitando o início imediato do tratamento”, ressalta o médico Fernando Oliveira Mateus, infectologista pediátrico do Hospital de Doenças Tropicais (HDT).
Segundo o profissional, a área da saúde possui dois tipos de exames fundamentais para o diagnóstico da sífilis: o teste treponêmico e o teste não treponêmico. O teste rápido está disponível em todas as unidades básicas de saúde (UBS). A população pode adquirir e realizar esse exame de forma rápida, com resultado em 30 minutos.
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“É crucial compreender a janela imunológica da doença, na qual o resultado pode inicialmente ser negativo após o contato com a bactéria. Portanto, repetir o exame é recomendado para excluir a possibilidade de um falso negativo, especialmente se realizado logo após a exposição”, enfatiza o especialista.
O tratamento padrão é feito por meio de penicilina benzatina, com dosagem e duração variáveis, dependendo do estágio da doença. De acordo com o pediatra, o sucesso do tratamento está intimamente relacionado à adesão ao regime de doses recomendadas no tempo correto.
“Soma-se a isso a importância crucial de tratar o parceiro sexual para prevenir a reinfecção da mãe. A sífilis é uma condição tratável, mas também pode ser reinfectada se o parceiro não receber tratamento adequado”, pontua.
CONGÊNITA
A sífilis congênita, resultante da infecção do feto transmitida por via placentária, pode causar complicações sérias, afetando o sistema nervoso central, ossos, pele e olhos da criança.
“Toda criança exposta à sífilis materna requer uma avaliação pediátrica detalhada para determinar a melhor abordagem. Isso envolve a seleção cuidadosa de exames e a decisão sobre a necessidade de tratamento”, afirma o médico.
No Hospital Estadual da Mulher Dr. Jurandir do Nascimento (Hemu), foram registrados 8 casos de sífilis em gestantes e 7 casos congênitos em outubro de 2023. De 1º a 06 de novembro, foram 6 notificações de sífilis na unidade, sendo 3 em gestantes e 3 congênitas.
Um caso que despertou especial preocupação foi o de S.G.R., uma jovem de 20 anos, residente em Caiapônia, a 335 quilômetros de Goiânia. Mesmo sob tratamento desde o diagnóstico de sífilis há três anos, ela testemunhou seu bebê nascer com a doença, o que os levou a permanecerem internados no Hemu para tratamento. S.G.R. compartilhou o impacto emocional dessa experiência:
“Foi uma sensação horrível. Uma preocupação muito grande. Não queria que meu filho tivesse a doença. É uma ferida que não cicatriza”.
AÇÕES DA SES
A SES-GO monitora a doença no estado por meio da Gerência de Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis e Coordenação de Vigilância das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). Desde agosto de 2021 a pasta realiza em Goiás o projeto “Sífilis Não”, com a capacitação nos municípios prioritários, que possui subnotificação. O objetivo principal é eliminar a transmissão vertical da sífilis congênita.
“Assim, implementamos um extenso trabalho de capacitação e observamos resultados positivos, com um aumento significativo nas notificações, o que significa uma melhora na sensibilidade do profissional de saúde para notificar. Notificando casos oportunamente, tratamentos também oportunamente e assim, evitamos a disseminação e a complicação dessa doença, principalmente para gestantes”, assinala a coordenadora de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), Luciene Siqueira Tavares.