Uma pesquisa inédita com participação brasileira revela que cerca de 10% das espécies de vertebrados terrestres, o que representa quase 4 mil animais, estão em risco de extinção devido à intensificação de eventos naturais como terremotos, furacões, vulcões e tsunamis. O estudo, publicado na revista científica “PNAS”, aponta para um cenário preocupante, especialmente em regiões tropicais e ilhas, onde a prevalência de espécies ameaçadas é significativamente maior.
Mapeando áreas de risco
Realizado por um consórcio de 20 instituições brasileiras e estrangeiras, incluindo a Universidade Estadual Paulista (Unesp), o Instituto Tecnológico Vale (ITV), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o estudo mapeou a sobreposição entre a ocorrência e a magnitude desses eventos naturais com as áreas de distribuição de anfíbios, aves, mamíferos e répteis.
Fatores de vulnerabilidade
Para identificar as espécies mais suscetíveis à extinção, os pesquisadores consideraram dois critérios: populações menores que mil indivíduos ou distribuição restrita a áreas de até 2.500 km². Essa escolha se baseia na dificuldade de reprodução e recuperação populacional em caso de eventos naturais de grande porte.
Regiões críticas e espécies ameaçadas
O estudo destaca a região neotropical, que se estende do sul do México ao norte da Argentina, como a mais afetada, concentrando quase 40% das espécies em risco. As principais ameaças variam de acordo com a localidade: furacões no Mar do Caribe e Golfo do México, e vulcões, terremotos e tsunamis no Anel de Fogo do Pacífico.
Ilhas em perigo
Um dado alarmante é que 70% das espécies mais ameaçadas estão restritas a ilhas. Um exemplo emblemático é o papagaio-de-são-vicente (Amazona guildingii), nativo das florestas da ilha caribenha de São Vicente, classificado como em alto risco devido à atividade vulcânica e em risco por furacões.
Falta de proteção agrava o problema
O estudo também revela que cerca de 30% das espécies em risco vivem fora de áreas protegidas, intensificando o perigo de extinção devido ao impacto humano nessas regiões.
Situação no Brasil
O pesquisador Fernando Gonçalves, um dos autores brasileiros do estudo, aponta que, apesar de eventos naturais de grande magnitude serem menos frequentes no Brasil, duas espécies ainda correm risco: o lagarto-da-areia (Liolaemus lutzae), da costa fluminense, e o sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus cambaraensis), encontrado entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A análise considerou o tsunami de baixa magnitude que atingiu o Rio de Janeiro em 2004 e o furacão de baixa intensidade que atingiu o sul do país no mesmo ano.
Gonçalves ressalta que, mesmo sendo menos frequentes, eventos como terremotos, furacões e tsunamis podem ocorrer no Brasil: “O país, apesar de não estar localizado próximo às bordas das placas tectônicas, possui falhas geológicas que podem gerar atividade sísmica. Já os tsunamis, quando ocorrem, geralmente estão associados a eventos localizados, como deslizamentos submarinos e/ou terremotos distantes.”
Alerta para ações urgentes
As conclusões do estudo reforçam a necessidade de medidas imediatas e intensivas de conservação para proteger essas espécies e seus habitats. “Além dos impactos humanos, a frequência e a magnitude de eventos naturais impulsionados pelas mudanças climáticas, como furacões, devem aumentar nos próximos anos”, alerta Gonçalves. O pesquisador enfatiza que, apesar de ainda pouco estudados, os impactos desses eventos na biodiversidade podem ser devastadores.