Pivô do escândalo conhecido como mensalão do DEM, o ex-governador José Roberto Arruda (PL) tem afirmado em conversas reservadas que deseja disputar a eleição ao Governo do Distrito Federal e tenta articular a formação de uma chapa.
A expectativa de que ele possa voltar ao tabuleiro político do DF movimenta campanhas e embaralha o cenário local, hoje dominado pelo atual governador, Ibaneis Rocha (MDB). A decisão afetaria diretamente o palanque de Jair Bolsonaro (PL) na capital federal.
A articulação de Arruda ocorre diante da convicção do político de que se livrará de punições na Justiça e poderá brigar pela sucessão de Ibaneis.
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O ministro André Mendonça, do STF (Supremo Tribunal Federal), já anulou duas condenações penais do ex-governador. Os processos foram enviados à Justiça Eleitoral.
Agora, para tornar-se elegível e deixar a lista dos chamados fichas-sujas, Arruda precisa reverter outras duas condenações.
A defesa dele tem defendido que ambas estão prescritas e não comprovam dolo, como exige a nova Lei de Improbidade Administrativa. Sem estar condenado, Arruda se livra das restrições da Lei da Ficha Limpa.
Apesar das ambições do ex-governador, ele sofreu um primeiro revés no TJ-DFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios). No último dia 6, o desembargador Ângelo Passareli negou pedidos da defesa de Arruda para anular as condenações.
Os advogados do político ainda avaliam se vão recorrer da decisão ao TJDFT ou levar o caso ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Confiante de que poderá concorrer, Arruda já conversou com o próprio Bolsonaro, segundo aliados do mandatário, e com lideranças de partidos como PP, Republicanos, PSD e Cidadania.
Nesse sentido, ele teve uma reunião na última semana com dirigentes de Republicanos, PP e do próprio partido, o PL, para pedir apoio dessas legendas –hoje próximas a Ibaneis.
Caso consiga se viabilizar, a candidatura de Arruda pode significar o impedimento (por uma questão de ajustes da aliança) do projeto político de sua esposa, a ex-ministra Flávia Arruda (PL), que busca uma vaga no Senado.
Flávia foi ministra da Secretaria de Governo de Bolsonaro entre 2021 e março deste ano.
Questionado sobre o tema, o ex-governador afirma que, no momento, o que está na mesa é a candidatura de Flávia ao Senado. “O que temos é a pré-candidatura da Flávia ao Senado. Está muito bem”, disse à Folha.
Em conversas com políticos e empresários, Arruda também tem levantado a hipótese de concorrer a deputado federal.
Interlocutores ouvidos pela Folha, no entanto, não acreditam na possibilidade e consideram o posicionamento do ex-governador uma forma de não enterrar a candidatura da esposa ao Senado antes mesmo de garantir sua elegibilidade.
O advogado de Arruda, Paulo Emílio Catta Preta, afirma que “não existe calendário eleitoral” na estratégia de defesa. “O que a gente quer é recobrar os direitos que foram violados, inclusive a elegibilidade, não somente. E aí ele decide o que fazer. Mas não é algo orquestrado”.
Nos últimos dias, Arruda voltou a acompanhar a esposa em agendas pelo Distrito Federal. Em clima de campanha, em 11 de junho, eles foram a duas feiras em Ceilândia -região administrativa mais populosa do DF e reduto eleitoral do casal.
Vestindo uma camiseta com o nome de Flávia, o ex-governador cumprimentou eleitores e posou para fotos. Arruda espera ter o apoio de Bolsonaro na briga para suceder Ibaneis. Nesse cenário, ele tem buscado partidos que compõem a aliança nacional do presidente.
Em conversa com integrantes do Republicanos, Arruda disse, segundo relatos, que gostaria que a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) disputasse o Senado na sua chapa.
Políticos do DF dizem que Arruda também poderia estimular a candidatura do empresário Paulo Octávio (PSD) ao Senado com Damares como suplente, o que desagrada líderes do Republicanos.
Em ambos os cenários, Flávia seria candidata à reeleição como deputada federal. A avaliação de aliados é de que ela conseguiria a recondução à Câmara com tranquilidade.
Paulo Octávio foi eleito vice-governador de Arruda em 2006 e renunciou ao cargo em 2010 após a prisão do então governador durante o escândalo do mensalão do DEM.
O caso veio à tona com a operação da Polícia Federal Caixa de Pandora. O ex-governador foi filmado recebendo um maço de dinheiro e alegou, à época, que o recurso seria usado em ações sociais, como a compra de panetones.
Em outra frente da articulação de uma eventual chapa, Arruda já disse a integrantes do PP e Republicanos querer a deputada Celina Leão (PP) como sua candidata a vice.
Mas ela tem afirmado, em conversas reservadas, que não gostaria de ser vice de Arruda por avaliar que perderia protagonismo político.
A deputada federal também foi cotada para ser vice de Ibaneis. Em um cenário de reeleição, aliados de Celina afirmam que ela poderia assumir o governo no final do mandato e se colocar como opção para a disputa, daqui a quatro anos, pela chefia do Executivo no DF.
Na sexta-feira (15), Damares publicou uma foto ao lado de Celina e escreveu: “E comecei o dia tomando café com minha amiga Celina Leão, líder da bancada feminina no Congresso Nacional. Novidades no ar! Aguardem!”
Ibaneis tem trabalhado para se reaproximar de Bolsonaro. O governador, segundo interlocutores, quer garantir que o presidente fique neutro na disputa do DF. Como o MDB, partido de Ibaneis, lançou a senadora Simone Tebet como pré-candidata ao Planalto, os dois não poderão dividir palanque no primeiro turno.
Aliados têm aconselhado o emedebista a procurar Arruda e Damares para conversar. Dizem que ele não pode menosprezar a força política do ex-governador e lembram que a ex-ministra Flávia foi a deputada federal mais votada do DF em 2018.