Joel Silva conta que estudava com livros doados durante as saídas para coleta de lixo em bairros nobres da cidade.
Filho dos coletores de materiais recicláveis Ducilene Barros e Jonas de Jesus, o morador da Terra Firme, periferia de Belém, Joel Silva, de 22 anos, é um dos calouros de medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA).
O resultado foi divulgado na manhã da última quarta-feira (14) e foi marcado, para o estudante, pela animação e sentimento de sonho alcançado. A comemoração foi em casa, com os mais íntimos da família.
“Vi o resultado junto com a minha mãe e minha irmã, fui trabalhar à tarde e até agora ainda não caiu a ficha”.
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Joel começava o trabalho das coletas com os pais pela manhã. As saídas agendadas eram em bairros nobres de Belém – Nazaré e Umarizal – e iam das 8h às 17h30. Já na Terra Firme, as coletas eram permanentes. O tempo restante do dia ele aproveitava para estudar.
Joel conta que o dinheiro que ele recebia já chegou a servir para pagar cursinho on-line e ajudar a conseguir a vaga no curso que tenta há dois anos.
Com as dificuldades da pandemia e sem aulas presenciais, ele relembra que usava livros doados para estudar os conteúdos do vestibular. O estudante disse que sempre teve o prazer de acompanhar o trabalho de conscientização sobre a coleta seletiva, preservação do meio ambiente e que desde os 10 anos de idade reaproveitava livros doados para estudar.
Joel largou as coletas em novembro para se dedicar na reta final do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em fevereiro, conseguiu trabalho como vendedor em um comércio varejista no bairro onde ele mora.
“Desde mais jovem, eu sempre tive vontade de trabalhar com as áreas biológicas e em uma profissão em que pudesse contribuir com alguma transformação social, mas me faltava confiança. Dessa vez deu certo. Espero que essa formação seja uma experiência transformadora na minha vida e no ambiente a meu redor, que é uma periferia”.
Joel estudou o ensino fundamental II e o ensino médio em uma escola pública e aguarda a segunda opção dele no vestibular: uma vaga para medicina na Universidade do Estado do Pará (Uepa). Mas ele garante, já conseguiu o que queria.
“Apesar das dificuldades, se a pessoa realmente focar onde ela quer estar lá na frente e em como chegar lá, se ela tiver um suporte tanto espiritual e familiar, são coisas essenciais para atingir objetivos como esse que foi o meu”, finalizou.
*Com informações do portal G1