Comandante-geral da PMDF responsabiliza coronel Paulo José pelo baixo efetivo no 8/1

Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa na manhã desta quinta-feira (15) o comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), coronel Klepter Rosa, afirmou que o número de policiais empregados no dia 8/1, bem como a determinação de manter o restante da tropa de sobreaviso, e não de prontidão, partiu do Departamento de Operações (DOP) da PMDF.

À época, o DOP era comandado interinamente pelo coronel Paulo José Ferreira. Em depoimento à CPI na semana passada, outro oficial da PMDF, o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, também apontou Paulo José como o responsável por determinar a abertura da Esplanada dos Ministérios no dia 8/1.

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O comandante Klepter Rosa disse à CPI que conversou com o coronel Paulo José no sábado, véspera dos atos, ao ser detectada a chegada de vários ônibus com manifestantes ao acampamento em frente ao QG do Exército. “Liguei para o coronel Paulo José e ele disse que sabia da chegada dos ônibus. Perguntei se ele estava tomando as medidas e ele disse que sim, que estava conversando com o coronel Casimiro para fazer o policiamento. Perguntei se ele tinha previsão de efetivo e ele disse que sim e sugeriu o emprego dos alunos do curso para reforçar a tropa”, afirmou.

Klepter Rosa também revelou que o coronel Paulo José havia dado garantias de que os policiais solicitados por ele seriam suficientes para conter os manifestantes do dia 8/1. “O coronel Paulo José me disse que todas as tropas estavam acionadas, inclusive os efetivos do BOPE, Choque, ROTAM e BPCães e que todos estavam cientes da missão. Paulo José também me disse que não precisava de apoio, que seu efetivo era suficiente e que os oficiais estavam habituados com manifestações”, disse Klepter.

Sobreaviso

Sobre a determinação de manter o restante do efetivo da PMDF de sobreaviso, quando os policiais podem ser chamados se necessário, em vez de ficarem de prontidão, quando precisam estar equipados e reunidos em local próximo à missão, o coronel Klepter Rosa disse que a decisão foi tomada com base no pedido do DOP. “Como o comando regional disse que a tropa seria suficiente e não havia previsão de horário de descida [dos manifestantes] para a Esplanada, não havia como deixar o efetivo de prontidão desde sábado. Se precisássemos do efetivo no domingo à noite, com que tropa iríamos contar? Deixamos o efetivo de sobreaviso porque ainda não tínhamos a solicitação do DOP com local e horário certos”, afirmou Klepter.

O comandante-geral também revelou que conversou com o coronel Paulo José no dia 8/1 pela manhã. “No domingo pela manhã mantive contato com Paulo José e ele me disse que a situação estava tranquila e que ele já teria acionado mais duas companhias que estavam sobreaviso. Diante dessa informação, a perspectiva que a gente tinha era de que o esquema estava funcionando”, disse.

O presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), questionou o depoente se a ordem para abertura da Esplanada dos Ministérios no dia 8/1 partiu do governador Ibaneis Rocha. “Não sei informar se a ordem veio do governador. Me recordo que perguntei ao coronel Fábio Augusto sobre a descida [dos manifestantes] para a Esplanada e ele me disse que estava desautorizada a entrada apenas na Praça dos Três Poderes e que a Esplanada só estava fechada para veículos”,respondeu.

Sobre o emprego de alunos do curso de formação da PMDF para a operação do dia 8/1, o comandante-geral mais uma vez responsabilizou o então comandante do DOP. “O chefe do DOP me solicitou mais policiais do curso de formação. O coronel Paulo José não me disse que seriam só os alunos. Ele disse que outras companhias também estavam escaladas”, revelou Klepter Rosa.

Em seu depoimento, Klepter Rosa disse ainda que ficou sabendo da invasão do Congresso Nacional pelo YouTube. “Por volta das 14h50, recebi uma mensagem no YouTube falando sobre a manifestação em Brasília. Vi manifestantes em cima da rampa do Congresso, e foi então que eu vi que haviam tomado todo o prédio do Congresso Nacional”, disse. Novamente, o comandante-geral ressaltou que “o efetivo empregado foi aquele que o coronel Paulo José solicitou”

O relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), questionou o comandante-geral sobre a autorização dada ao coronel Jorge Eduardo Naime, então titular à frente do DOP, para tirar férias no dia 8/1. “O coronel Naime já havia cumprido várias missões e estava me relatando esgotamento há vários dias. Como a posse presidencial já havia passado e como ele tinha direito de gozar suas férias, dei a autorização”, respondeu Klepter Rosa.

Acampamento

O deputado Fábio Félix (PSOL) quis saber se houve tentativa de remoção do acampamento em frente ao QG do Exército pela Polícia Militar. “Houve duas ou três tentativas, mas o DOP informou que o Exército criava dificuldades para a operação”, respondeu o comandante-geral.

Pastor Daniel de Castro (PP) saiu em defesa dos manifestantes que estavam acampados. “Me incomoda a tentativa de condenar todos os manifestantes que estiveram no acampamento do Exército por mais de 50 dias. É preciso individualizar as condutas”, defendeu.

Gabriel Magno (PT), por sua vez, ressaltou que os manifestantes “estavam desrespeitando uma lei que tipifica o crime contra o estado democrático de direito”.

Paula Belmonte (Cidadania) observou que vários depoentes anteriores haviam dito não ser comum deixar tropas de sobreaviso em manifestações e questionou o depoente sobre a decisão tomada no dia 8/1. Em sua resposta, Klepter Rosa disse que a prática é corriqueira na Polícia Militar.

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