Primeiro instrutor e examinador de trânsito surdo do Brasil é do DF

Emanuel Souza Andrade participa da banca de aplicação de exames para condutores com deficiência auditiva. Em média, o Detran-DF realiza de quatro a oito avaliações por mês para esse público

Piauiense de nascença, mas brasiliense de coração, Emanuel Souza Andrade, 36 anos, servidor do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), se tornou o primeiro instrutor e examinador de trânsito surdo do Brasil. No órgão desde 2012, ele passou a participar neste ano da banca examinadora do processo de avaliação prática para obtenção da carteira nacional de habilitação (CNH) para pessoas com deficiência auditiva.

A nova etapa na carreira de Emanuel se deu após a graduação em Língua Brasileira dos Sinais (Libras) na Universidade de Brasília (UnB), a formação em um curso na área e uma fase de teste em que acompanhava intérpretes de Libras nas bancas examinadoras do órgão. “Me sinto realizado e com vontade de sempre melhorar. No começo, foi um grande desafio seguido de intenso aprendizado diário”, afirma.

LEIA TAMBÉM:

Mais do que quebrar paradigmas ao ser o primeiro examinador surdo do país, Emanuel almeja expandir a inclusão na área, prevista no Código de Trânsito Brasileiro, que garante a esse público acessibilidade comunicacional durante todo o processo. “Agora a tendência é tornar o processo mais acessível e fazer com que as pessoas como eu encontrem menos dificuldades pelo caminho”, comenta.

Para isso, o servidor integra o projeto Libras no Trânsito, do Detran-DF, que tem como objetivo oferecer cursos de trânsito para pessoas surdas, e também faz um mestrado na UnB no Programa de Pós-Graduação em Estudos de Tradução em que pretende traduzir do português para Libras o processo de obtenção da CNH. “Para que os surdos sejam atendidos por meio da língua de sinais”, completa.

Chefe do Núcleo de Avaliação de Candidatos do Detran-DF, Fábio Eduardo de Oliveira acredita que a presença de Emanuel na banca vai melhorar a experiência dos candidatos surdos e com deficiência auditiva. “Imagino que, para o candidato, ao ter um examinador surdo, a comunicação é colocada em pé de igualdade. Que seja algo reconfortante. É algo extraordinário para a gente ter uma equipe bem preparada e plenamente capaz de se comunicar”, avalia.

Tradução em Libras

Em média, o Detran-DF tem de quatro a oito exames por mês que necessitam da comunicação em Libras. Antes do início do trabalho de Emanuel como examinador, o órgão contava com até quatro intérpretes de Libras se revezando na atuação de tradução durante os exames teóricos e práticos.

Desde 1975, uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) permite que pessoas surdas ou com deficiência auditiva possam participar do processo para tirar a CNH. Além disso, uma alteração no Código de Trânsito Brasileiro garante a esse público acessibilidade comunicacional em todas as etapas. Apesar da garantia da legislação, a acessibilidade ainda é bastante reduzida no Brasil.

A solicitação do intérprete costuma ser intermediada pela autoescola em que o candidato está matriculada com o Detran-DF. Os futuros condutores podem fazer o pedido em todas as etapas do processo, incluindo o exame teórico-técnico e o exame de direção veicular.

Libras no Trânsito

De criação da Escola Pública de Trânsito (EPT), da Diretoria de Educação de Trânsito, o projeto Libras no Trânsito visa promover a acessibilidade linguística com metodologia adequada para a comunidade surda, ao formar instrutores e examinadores surdos ou fluentes em Libras. A etapa é fundamental para viabilizar a oferta de turmas do curso teórico-técnico bilíngue português-Libras voltado à formação de condutores na obtenção da CNH.

Atualmente, a iniciativa concorre ao Prêmio Espírito Público na categoria Promoção da Diversidade. A votação popular que define o premiado com Menção Honrosa segue até 31 de outubro pelo site https://premioespiritopublico.org.br/votacao-popular-2022.

RECOMENDAMOS