O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, deputado distrital Chico Vigilante (PT) considerou, ao avaliar a oitiva desta quinta-feira (13) com o empresário Joveci Xavier de Andrade, que o mais importante do depoimento dele foi o fato de ter confirmado que o Exército fez a segurança do acampamento dos manifestantes bolsonaristas. Do início de novembro até o dia 9 de fevereiro, o acampamento chegou a ter mais de 3 mil pessoas e foi montado em frente ao Quartel Geral do Exército, no Setor Militar Urbano da capital federal. Agora, segundo Vigilante, os deputados querem informações dos militares que estão programados para depor na comissão sobre os motivos que os levaram a esse tipo de “proteção”.
Na próxima quarta-feira (19), está programado para depor na CPI o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Jair Bolsonaro. Como está na reserva, o general foi convocado e não convidado – o convite é prerrogativa à qual só têm direito os militares da ativa. Para Chico Vigilante vai ser importante saber por que motivo o GSI não agiu da forma como deveria ter agido nos atos de 12 de dezembro, quando manifestantes que estavam nesse acampamento queimaram ônibus e praticaram diversos atos de vandalismo no centro de Brasília.
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O distrital destacou que os atos de 8 de janeiro, que resultaram nas depredações dos prédios do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF) só aconteceram porque foram realizados os atos de 12 de dezembro – que deram margem para isso, uma vez que não houve reação por parte das forças de segurança na época. Vigilante também disse que será importante a vinda à CPI do general Gustavo Henrique Dutra, ex-comandante militar do Planalto. Ele foi convidado para depor na CPI em data a ser definida.
Já em relação ao depoimento de hoje, o empresário Joveci Xavier de Andrade caiu em contradição várias vezes. Depôs munido de um advogado e apresentou habeas corpus que o autorizou a não comparecer à sessão (se achasse melhor), o impediu de ser preso (caso se omitisse de dar alguma declaração) e também lhe concedeu o direito de, em ir, ficar calado para não produzir provas contra si mesmo. Ele preferiu ir e responder aos depoimentos dos deputados, porém muitas vezes de forma dúbia.
Contradições – Foram várias as vezes em que o empresário respondeu às perguntas com a frase “não que eu me lembre”. E caiu em contradição pelo menos uma vez. Disse que não tinha participado de nenhuma manifestação política antes do dia 8 de janeiro. E mesmo assim, não participou das depredações. Teria chegado na Esplanada quando os vandalismos já tinham acontecido e ficou estarrecido com tudo o que viu. Na mesma hora, os integrantes da CPI apresentaram fotos dele em redes sociais no acampamento dos bolsonaristas, com camisas nos tons verde e amarelo e segurando um cartaz escrito “Fora Lula”.
Constrangido, Andrade disse que tinha entendido errado a pergunta dos parlamentares porque não considera que as visitas que fez ao acampamento sejam consideradas participação em manifestações.
Joveci Xavier de Andrade disse que votou em Jair Bolsonaro, mas negou que tenha financiado os atos bolsonaristas. Também negou que tenha participado das depredações do dia 8/1 e afirmou que imagina que o fato de alguns amigos ou até seu sócio o terem incluído em vários grupos de zap de bolsonaristas tenha suscitado desconfianças contra ele, mas que nunca financiou qualquer movimentação desse grupos. Quando perguntado, porém, se não tinha levado nem ao menos algumas garrafas de água no acampamento – ele está sendo investigado, dentre outras coisas, por ter comprado barracas, gêneros alimentícios, banheiros químicos e galões de água para os acampados – respondeu de forma repetitiva: “não que eu me lembre”.
A CPI dos Atos Antidemocráticos está sendo realizada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) desde fevereiro passado e ouviu, hoje, o seu sétimo depoimento.