Hemocentro identifica irmãos com tipo de sangue raro entre doadores

Márcio e Mônica da Silva apresentam o fenótipo chamado Diego, de combinação extremamente incomum

A Fundação Hemocentro de Brasília (FHB) identificou entre os doadores de sangue do Distrito Federal dois irmãos, Márcio da Silva Gomes e Mônica da Silva, com um tipo sanguíneo raro. A descoberta é uma conquista do programa de fenotipagem e genotipagem do Hemocentro, responsável por classificar doadores com características sanguíneas especiais, e permite uma abordagem mais avançada na busca por compatibilidade transfusional.

A excepcionalidade no sangue dos irmãos está no sistema Diego, um dos 46 sistemas sanguíneos existentes, como o ABO ou o RH. Doador fidelizado do Hemocentro de Brasília, Márcio teve o seu sangue selecionado em agosto para a fenotipagem. Esse processo envolve a análise de antígenos presentes nas hemácias, que ajuda a determinar as características sanguíneas do doador.

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Após a análise, os resultados sugeriram que Márcio apresentava um fenótipo raro, levando a equipe a encaminhar seu sangue para a genotipagem eritrocitária. A genotipagem é uma técnica avançada de biologia molecular que permite identificar o que há na superfície da hemácia do paciente, por meio da análise de DNA. Esse método é especialmente útil quando a análise sorológica não é suficiente ou possível de ser realizada.

“Essa técnica é essencial para identificar antígenos com importância transfusional”, explica a bióloga Ana Luísa Mafra, do Hemocentro. “Com a genotipagem, conseguimos realizar uma investigação em nível molecular que é vital para a segurança das transfusões.”

Doadores

A descoberta de Márcio como doador raro revelou que ele é Diego A positivo e Diego B negativo — uma combinação extremamente incomum no Brasil. Ao saber da raridade de seu tipo sanguíneo, Márcio forneceu o contato de sua irmã Mônica, permitindo que ela também fosse testada.

Até então, o Hemocentro possuía apenas uma doadora cadastrada com as mesmas características. Ela era a única doadora convocada para atender a um paciente com anemia falciforme do Hospital Regional do Gama (HRG), que necessita de transfusões com esse tipo de sangue raro.

Agora, com a inclusão de Márcio e Mônica no cadastro de doadores raros, as chances de fornecer o sangue necessário ao paciente aumentaram significativamente. “Esse paciente não pode receber outro tipo de bolsa de sangue devido à presença de anticorpos”, detalha Ana Luísa. “Agora temos mais doadores compatíveis e podemos atender de forma mais ágil. Por isso essa descoberta foi tão importante para a nossa equipe”.

Mônica ficou emocionada ao descobrir que seu sangue pode ajudar pacientes em situações críticas. “Saber que posso fazer a diferença, ainda mais com um sangue raro, é um presente de Deus”, disse. Márcio, que já era doador regular, também ficou surpreso com a descoberta. “Entre 26 mil cadastrados, só havia uma pessoa com o mesmo tipo de sangue que eu. Agora sei que posso ajudar ainda mais”, comentou.

Banco de Sangue Raro 

No Brasil, o Ministério da Saúde mantém o Cadastro Nacional de Sangue Raro, uma rede que facilita a busca por doadores compatíveis em todo o país. Esse banco é essencial para pacientes que precisam de transfusões com tipos de sangue específicos e que não encontram doadores disponíveis localmente.

No caso de identificação de um sangue raro, como o fenótipo Diego A positivo e Diego B negativo, o Hemocentro de Brasília segue um protocolo rigoroso antes de cadastrar o doador no banco nacional, garantindo que o sangue seja disponibilizado para outros estados quando necessário.

Até 2022, o Brasil possuía cerca de 10 doadores com o fenótipo Diego B negativo. De lá para cá, o Hemocentro de Brasília já identificou três deles na região Centro-Oeste e, mais especificamente, no Distrito Federal.

Atualmente, o Hemocentro de Brasília possui 41 doadores inseridos no Cadastro Nacional de Sangue Raro. Todos os dias, 12 doadores são selecionados para ter o seu fenótipo detalhado na instituição em busca de características especiais no sangue. Ao todo, mais de 26 mil voluntários já tiveram o sangue fenotipado pela FHB.

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