Brasília, 61 anos: Vila Amaury, uma cidade submersa

A 38 metros de profundidade, o Lago Paranoá esconde um lugar que um dia abrigou mais de 15 mil trabalhadores

A Vila Amaury, criada por um dos funcionários da Novacap, o Amaury Almeida, que na época conduzia o movimento pró-moradia, era o responsável por organizar a chegada dos novos migrantes e alojá-los nas cidades. Em 1959, perto da inauguração, havia um fluxo muito grande de pessoas no centro, e como a cidade estava perto de ser inaugurada, o funcionário formou a então vila, como explica a sua filha, Elizabeth Pinheiro.

“Quando estava perto da data da inauguração, o doutor Ernesto Silva pediu que meu pai removesse todos os candangos que moravam perto da área da inauguração. Ele sabendo que o Lago ia subir, fez uma vila próxima a esse local com a intenção de que quando o Lago subisse o governo se mobilizasse para arrumar um lugar para que esses candangos morassem”.

Amaury e sua esposa no baile de debutantes no Brasília Palace em 1958

O vilarejo está localizado entre o Iate Clube e o clube Cota Mil, não tem ao certo registros do local exato em que a vila foi inundada. O espaço servia apenas para descanso, porque durante o dia, os operários se ocupavam na construção do Congresso Nacional e dos Ministérios.

O lago que nem sempre existiu

construção da barragem do Lago Paranoá começou em 1957, sob responsabilidade da construtora americana Raymond Concrete Pile of the Americas. Porém, o constante atraso nas obras impedia a concretização da promessa de campanha, feita em 1955 pelo presidente Juscelino Kubitschek, de que a inauguração de Brasília ocorreria em abril de 1960.

Por isso, à época, Juscelino rescindiu o contrato e transferiu o comando da construção da barragem para a Novacap, que dividiu o trabalho com as construtoras Camargo Corrêa, Rabello e Engenharia Civil e Portuária.

Para Kubistchek, era inconcebível a inauguração da nova capital do país sem o lago, segundo relatos guardados no Arquivo Público do DF.

Plano antigo

A concepção do Lago Paranoá remonta ao fim do século 19. Em relatório de 1896, o paisagista do Império Luís Glaziou anotou que, na localidade entre os chapadões Gama e Paranoá, existia um vale “em parte sujeita a ser coberta pelas águas da estação chuvosa; outrora era um lago devido à junção de diferentes cursos de água formando o rio Paranoá”. Por isso, para ele, era “fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte […] forçosamente a água tornará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos”.

Em 1948, a Comissão de Estudos para a localização da Nova Capital do Brasil, presidida pelo general Poli Coelho, referendou os estudos da Comissão Cruls, segundo o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal. A ideia foi retomada na construção de Brasília. Várias dificuldades atrasaram seguidas vezes a obra, que acabou sendo efetivada no início dos anos 1960. Segundo o instituto, “durante oito meses as águas avançavam mansas, lentamente, por sobre as terras secas e coloridas do cerrado. Terras inundadas”.

Durante a construção de Brasília, o presidente Juscelino Kubitschek teve de enfrentar não apenas problemas com as empresas responsáveis pela obra do lago e seguidos adiamentos do prazo de entrega, mas também a crença de críticos que afirmaram que, por ter um terreno poroso, o lago nunca encheria. Diante da concretização da “moldura líquida da cidade” que ajudou a erguer, como ele chamou, o presidente declarou: “Encheu, viu?”. Parte dessa história foi contada pelo próprio Juscelino no livro Por Que Construí Brasília?

Com informações de Victoria Basques e Agência Brasil

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